Segunda-feira, 23 de Abril de 2007
Num site propício a encontros sexuais e sexo virtual fiz o meu registo. Num site onde o mercado de sexo se afirmava numa mesma configuração que um mercado tradicional, as fotos que exprimiam os potenciais atributos de cada um eram audaciosas, os perfis ajustados ao que as pessoas cobiçavam ser na vida real e as frases com as carências consentâneas à oferta do corpo alimentavam o marketing do sexo. Os nicks ilustravam as indispensabilidades e oferta de cada um. Os meus intuitos passaram a ser a descoberta de pessoas, num ambiente de oferta sexual, com uma agilidade de pensamento diferente. Para os homens, tornava-se complexo chamar as mulheres, a maioria não respondia, permaneciam no site gratuitamente o que não lhes permitia ter acesso a todas as funcionalidades e penso também que, por norma, as mulheres não falavam simultaneamente com vários homens. Optavam por conversar com um, o que entravava os outros contactos já que declinavam as chamadas por estarem ocupadas. O número de homens on-line no site era expressivamente maior que o das mulheres, assim a oferta feminina era menor.
As mulheres respondiam de forma resumida, combativa e frígida. Umas extensamente sondavam as características físicas e outras exploravam as suas iras contra os homens. Foi aqui que melhor percebi as mulheres. Expunham os seus dotes, tanto por palavras como pela apresentação de fotos e seleccionavam de forma malcriada pela capacidade que tinham de serem em menor oferta. Conheci, por aqui, a má-criação das mulheres. Quebravam as conversas sem qualquer satisfação, fechavam a janela de conversação e declinavam mensagens pela observação do perfil. Poucas eram as que davam qualquer hipótese. Seleccionavam ao pormenor, penso que com poucos resultados já que os perfis eram, na sua maioria, falsos. com todos os homens que falei, as acusações eram sempre as mesmas: as mulheres não respondiam e quando respondiam eram demasiado selectivas. Percebi que a mentalidade das mulheres que mareavam por ali era um pouco despreza. Adoptei uma postura diferente. Dava hipótese a quase todas as pessoas que me chamavam e apercebi-me que as pessoas com pior perfil eram as mais dóceis, mais afectuosas, mais perspicazes e mais enriquecidas. Talvez por terem todas essas características é que não precisavam de as expor nos perfis. Os perfis mais requintados eram domínio de pessoas com poucos valores. Entre os homens encontrava-se uma ampla série de pessoalidades mas normalmente não eram descorteses. Ainda que o seu objectivo fosse o sexo não quebravam uma conversa e admitiam uma amizade. Nunca descurei, que a tentativa de amizade teria como objectivo o relacionamento sexual, ainda assim considero que era uma estratégia melhor que a das mulheres. A amizade autorizaria, como era óbvio, um relacionamento sexual mais maduro. Estratagema que as mulheres não utilizavam pela selecção que faziam. Alcancei que as cibernautas deste site se sentiam descriminadas e eram tidas como outsiders do conceito de mulheres modelo por navegarem na net. Nunca me tinha apercebido disso.
Qualquer um dos sexos disputava e destrinçava perfis e nicks audazes.
A abordagem inicial era sempre a mesma: - donde teclas, - como te chamas? - o que fazes?, - o que procuras aqui?. Era uma satisfação quando encontrava uma pessoa com uma abordagem diferente. Não era acessível, todas as interlocuções estavam mecanizadas.
Por vezes pensava no que seria a vida daqueles homens e mulheres casados que, tanto, escondiam aos seus companheiros. Tinham uma vida em comum e ali, furtivos, desafiavam a todas as banalidades. Punham em risco uma vida de anos pela fragilidade de relações que a net facilitava. O sexo virtual e o voyeurismo eram a ocupação principal daquele site. Quando ligava a camera as visitas ascendiam a mais de uma centena de pessoas. Todas, dispostas à troca de imagens com as próprias masturbações. A carência e necessidades daquelas pessoas eram percebíveis em todas as conversas. Corriam riscos de se confrontarem sem saberem com quem. Não era a primeira vez que me narravam, melancólicos, que o seu interlocutor tinha sido um familiar ou amigo.
Na sua maioria as mulheres usavam uma linguagem demasiado simples, teclavam no MSN com vários homens, em simultâneo, não aprimorando nenhuma das conversas. Decidiam-se pela quantidade em prejuízo da qualidade. Os seus investimentos desperdiçavam-se pela falta de capacidade para apurarem e investirem numa única conversa. A impessoalidade e falta de concentração que ali permaneciam consentiam que as pessoas atrasassem a responder. As conversas, na sua maioria, nunca tinham uma continuidade. As pessoas picavam aqui e ali sem saborear nada. Facultavam telefones e endereços de mails, à primeira conversa, e desistiam ao aparecimento de uma nova oportunidade. Afinal o que conseguiam satisfazer, ali?
música: Mika-grace Kelly
sinto-me: